É curioso como já te vi partir tantas e tantas vezes e em cada uma dessas partidas imaginei ser a última vez em que me despediria de ti. Mas sempre voltavas de malas feitas, sorriso no rosto, de braços abertos e com a voz preenchida de saudade.
Naquele dia, onze de maio, quando te despediste de mim com um beijo atirado pela porta entreaberta, acreditei piamente mais do que num reencontro, numa continuação deste conto que parece não ter fim. Enganei-me. Quando tive a certeza que não regressarias lamentei todas as palavras que evoquei nessa conversa.
Se eu soubesse que aquele era a nosso último diálogo teria agido da mesma forma que agi durante estes dois anos: mandar-te-ia uma mensagem, iria ter contigo e abraçar-me-ia a ti durante todos os segundos que estivéssemos juntos. Não te imploraria para ficares pois sinto que estás cada vez mais perto do teu sonho e, como já te disse milhões de vezes, estou a torcer para que o realizes e acredito mesmo que o consigas!
Apesar de não ter coragem de to dizer, por dentro estaria a suplicar para que ficasses hoje, amanhã, depois de amanhã, para a semana que vem, para o próximo mês,  para o próximo Natal, para o próximo ano novo, para o próximo ano, para os próximos dois, três, quatro, dez, vinte anos! 
Gostaria de ter tido coragem para partilhar contigo as vezes que me deixei levar pelos pensamentos e só parei num futuro idealizado por mim, em que a tua grande aspiração estaria realizada e eu estaria a teu lado bem longe daqui. Queria ter-te contado como me sinto quando te vejo a aproximares-te com o mesmo sorriso com que te aproximaste de mim na primeira vez em que falamos. Adoraria ter-te dito que apesar de todos os dias cinzentos, estes foram os melhores dois anos da minha vida.
Não me arrependo de não te ter dito qualquer uma destas palavras. Sei que concretizarás o teu sonho e que um dia me procurarás. Sei que nesse dia terei oportunidade de tas dizer e sei que tocarão as tuas recordações mais profundas.