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Hoje recordo como tudo começou. 
Possivelmente já não te lembras da primeira vez que nos vimos. Eu subia a avenida e tu descias a mesma. Eu estava ao telefone quando a tua presença me atraiu a atenção. Sabia vagamente quem eras, já tinha ouvido falar de ti. Olhei-te e ao telemóvel sussurrava: “ Ele está a olhar para mim, ele está a olhar para mim“. Depois de passarmos um pelo outro arrisquei olhar para trás e tu fizeste o mesmo. Lembro-me perfeitamente da minha reacção a esse momento! Continuei a dizer repetidamente “ele olhou para mim, ele olhou para mim“ e comecei a correr pela avenida com um sorriso que só posso descrever da próxima vez que a cena se repetir e eu tenha tempo de descer à terra para ter tempo de pensar em descrições. Depois percebi que muito provavelmente tu apenas me viste e não me olhaste. 
Todas as sextas-feiras passava pelo mesmo sítio, à mesma hora, na esperança que também repetisses o ritual, na esperança de te encontrar. Já perdi a conta às sextas que passei sentada no banco daquela avenida à espera que passasses por lá. 
O tempo foi passando mas nunca atenuando o interesse que tinha em ti até porque o teu nome soava em todo o lado, toda a gente falava de ti e do teu sonho. 
Quanto mais sabia sobre ti, mais queria saber! Como toda a gente tem telhados de vidro, descobri que não eras tão perfeito quanto eu pintava. Foi nessa altura que comecei a controlar esse descontrolado interesse.
No entanto, não demorou muito até falarmos pela primeira vez, apenas cinco dias. Quando nos começamos a interessar por alguém, esse interesse alastra por todo o nosso corpo e deixámos de tomar conta dele, passando a agir impulsivamente. E por isso mesmo, fui eu que fui ao teu encontro.
Infelizmente, para o desfecho da nossa história, quando nos conhecemos mostraste interesse em mim. Fizeste perguntas, recebeste-me com um sorriso gigantesco e um brilho no olhar. A cumplicidade foi instantânea. Pensei que fôssemos amigos. Cada vez que estava contigo descobria um pouco mais de ti mas nunca descobri o que me querias ocultar. Ainda não sei se o fizeste de propósito ou se apenas pensaste que não fosse relevante. Apesar das evidências, durante esse tempo todo, tentei convencer-me que estava tudo certo e deixei-me ir. 
Não quero lembrar nem descrever a última vez que estive contigo antes de te ires embora sem aviso prévio. 
Quando soube que te tinhas ido embora estava a chover tal como no dia 5 de Dezembro, tal como no dia 10 de Dezembro, tal como no dia 29 de Abril! 
Proporcionaste-me a maior desilusão da minha vida. Chovia tanto que me abriguei num local muito curioso. No mesmo sítio onde nos conhecemos. Via-te em todo o lado, não me conseguia conformar. Ainda dói lembrar-me disto. Ainda hoje, te escrevo isto com os olhos em lágrimas e o coração despedaçado. 
Ligaste-me passado dois dias. Consegues adivinhar onde eu estava quando me ligaste? No local onde nos conhecemos. Limitaste-te a procurar justificações para o que fizeste, e tentaste desdramatizar. Disseste que tinha sido tudo muito rápido e que ias voltar. Ligavas-me de vez em quando, mas eram telefonemas tão rápidos que eu quis acreditar que as “desculpas” seriam quando voltasses. 
Sei que é muito provável, ou quase certo, que não te recordes da maioria destes pormenores. Mas eu não esqueci. Não, nunca me esqueci de ti.

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